Bula do Colchicina
Princípio Ativo: Colchicina
Colchicina, para o que é indicado e para o que serve?
Colchicina é destinado ao tratamento das crises agudas de gota e na prevenção das crises agudas nos pacientes com artrite gotosa crônica.
A colchicoterapia pode ser indicada na Febre Familial do Mediterrâneo e em casos de escleroderma, poliartrite associada à sarcoidose e psoríase.
A Colchicina é eficaz no tratamento clínico da Doença de Peyronie nos casos com tempo de evolução inferior a um ano, atuando na redução do processo inflamatório que vai dar origem à placa fibrosa. Não tem seu uso bem estabelecido nos casos com longo tempo de evolução, quando a placa de fibrose já está plenamente formada.
Quais as contraindicações do Colchicina?
É contraindicado em pacientes com hipersensibilidade a Colchicina e em pacientes com doenças gastrointestinais, hepáticas, renais ou cardíacas graves ou durante a gravidez.
A Colchicina está classificada na categoria C de risco na gravidez.
Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista.
Como usar o Colchicina?
Uso Adulto
Antigotosos
A Colchicina deve ser administrada ao primeiro sinal de ataque agudo de gota.
A dose deve ser reduzida se ocorrer debilidade muscular, náuseas, vômitos ou diarreia.
O intervalo entre as doses deve ser aumentado nos pacientes cuja taxa de filtração glomerular estimada esteja entre 15-29ml/min.
Profilaxia:
1 comprimido de 0,5mg, uma a três vezes ao dia, por via oral; ou seja, 1 comprimido de 0,5mg a cada 24 horas ou 1 comprimido de 0,5mg de 12 em 12 horas ou de 8 em 8 horas, respectivamente.
Os pacientes com gota submetidos à cirurgia, devem tomar 1 comprimido três vezes ao dia (1 comprimido de 8 em 8 horas), por via oral, 3 dias antes e 3 dias depois da intervenção cirúrgica.
Tratamento (alívio do ataque agudo):
Inicialmente 0,5mg a 1,5mg seguido de 1 comprimido a intervalos de 1 hora, ou de 2 horas, até que ocorra o alívio da dor.
Manutenção:
Os pacientes crônicos podem continuar o tratamento com 2 comprimidos ao dia (1 comprimido de 12 em 12 horas), por até 3 meses, a critério médico.
Limite máximo diário:
A dose máxima alcançada deve ser abaixo de 7mg.
Doença de Peyronie
Iniciar com 0,5mg a 1,0mg ao dia, administrada em uma a duas doses, podendo ser elevada até 2mg/dia, administrada em duas a três doses.
Ao administrar Colchicina, deve-se levar em consideração a sua estreita margem de segurança.
Uso em Idosos
As doses e cuidados para pacientes idosos são as mesmas recomendadas para os adultos.
Este medicamento não deve ser mastigado.
Quais as reações adversas e os efeitos colaterais do Colchicina?
Os eventos adversos da Colchicina são apresentados a seguir, em ordem decrescente de frequência, embora algumas não estejam bem definidas.
Muito comuns (>10%)
Gastrointestinais
Diarreia, vômitos, náuseas, cólicas,
Comuns (>1% e < 10%)
Sistema nervoso central
Fadiga, cefaleia.
Endócrinos e metabólicos
Gota.
Respiratório
Dor faringolaríngea.
Incomuns (>0,1% e <1%)
Alopecia, depressão medular, dermatite, coagulação intravascular disseminada, hepatotoxicidade, reações de hipersensibilidade, aumento da creatina fosfoquinase (CPK), intolerância à lactose, mialgia, miastenia, oligospermia (reversível com a interrupção do tratamento), púrpura, rabdomiólise, doença neuromuscular tóxica, neutropenia, leucopenia, azoosperma.
Em casos de eventos adversos, notifique ao Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária – NOTIVISA, disponível em www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/index.htm ou para Vigilância Sanitária Estadual ou Municipal.
Interação medicamentosa: quais os efeitos de tomar Colchicina com outros remédios?
Os medicamentos neoplásicos rapidamente citolíticos, bumetamida, diazóxido, diuréticos tiazídicos, furosemida, pirazinamida ou triantereno podem aumentar a concentração plasmática de ácido úrico e diminuir a eficácia do tratamento profilático da gota.
A Colchicina pode aumentar os efeitos depressores sobre a medula óssea de medicamentos que produzem discrasias sanguíneas ou da radioterapia.
O uso simultâneo com fenilbutazona pode aumentar o risco de leucopenia ou trombocitopenia, bem como de úlcera gastrintestinal.
A Colchicina deve ser usada com cautela em pacientes usando medicamentos inibidores da P-gp (ciclosporina, ranolazina) ou medicamentos inibidores moderados (amprenavir, fosamprenavir, diltiazem, eritromicina, fluconazol, verapamil) ou fortes (atazanavir, claritromicina, indinavir, nelfinavir, saquinavir, ritonavir, cetoconazol, itraconazol, nafazodona) do CYP3A4; aumento significativo das concentrações plasmáticas de Colchicina e toxicidade fatal já foram relatados.
A dose de Colchicina deve ser ajustada quando ela é usada concomitantemente a inibidores de protease.
A Colchicina pode aumentar o risco de rabdomiólise de inibidores da enzima HMG-CoA redutase (estatinas) e de derivados do ácido fíbrico (fibratos).
A vitamina B12 pode ter sua absorção alterada pela Colchicina, podendo ser necessária administração de doses adicionais desta vitamina.
Interações medicamento-exame laboratorial
A Colchicina interfere com as determinações urinárias dos 17-hidroxicorticosteroides mensurados pelo método Reddy, Jenkins e Thorn e pode causar resultados falsos-positivos nos testes de urina para eritrócitos e hemoglobina.
Quais cuidados devo ter ao usar o Colchicina?
No tratamento de ataque
Avaliar com atenção os casos de insuficiência renal ou hepatobiliar.
Proceder a contagem sanguínea completa, periodicamente, para detectar depressão da medula óssea.
Utilizar com medicamentos que reduzem o trânsito intestinal ou com antidiarreicos, caso ocorra diarreia ou colopatia evolutiva.
No tratamento de longo prazo, com doses de 0,5mg a 1,0mg, as complicações são muito raras.
Por precaução, deve-se avaliar as possíveis reações adversas apresentadas pelos pacientes.
Gravidez
A Colchicina interrompe a divisão celular em animais e plantas e há relatos de diminuição da espermatogênese em humanos.
A Colchicina cruza a barreira placentária e pode ser teratogênica em humanos, como observado em estudos realizados em animais. As pacientes devem ser orientadas para não engravidar durante o tratamento e o médico deve avaliar o risco/benefício do uso do medicamento.
Amamentação
O médico deve avaliar o risco/benefício do uso da Colchicina, pois ela é excretada no leite materno.
Uso Pediátrico
Não se tem dados sobre a segurança do uso em crianças.
Uso Geriátrico
Os pacientes idosos podem ser mais sensíveis à toxicidade cumulativa da Colchicina e ajustes de doses podem ser necessários.
Insuficiência hepática e insuficiência renal
A depuração de Colchicina pode diminuir em pacientes com insuficiência hepática e em pacientes com insuficiência renal, que devem ser cuidadosamente monitorados para eventos adversos. Ajustes de doses podem ser considerados, a depender do grau de comprometimento hepático ou renal e podem ser afetados pelo uso concomitante de medicamentos metabolizados pelo CYP3A4 ou de medicamentos inibidores da P-gp.
Em pacientes com insuficiência renal moderada (taxa de filtração glomerular estimada de 30-59ml/min) a Colchicina pode ser administrada 1x/dia na dose de 0,5 a 0,6mg. Em pacientes com insuficiência renal grave (taxa de filtração glomerular estimada de 15-29ml/min), a Colchicina pode ser administrada na dose de 0,5-0,6mg a cada 2 ou 3 dias. A Colchicina é contraindicada em pacientes com taxa de filtração glomerular estimada < 15ml/min.
Odontologia
A Colchicina pode produzir efeitos leucopênicos e trombocitopênicos, que podem provocar aumento da incidência de infecções microbianas, retardo de cicatrização e hemorragia gengival. O paciente deve ser orientado para a limpeza adequada dos dentes e o tratamento deve ser interrompido até o retorno das contagens de leucócitos e plaquetas aos valores normais.
Qual a ação da substância do Colchicina?
Resultados de Eficácia
Um estudo randomizado, duplo-cego, multicêntrico e placebo controlado comparou a auto-administração de Colchicina em dose baixa (total de 1,8mg em 1 hora) e em dose alta (total de 4,8mg em 6 horas) com placebo, tendo como desfecho primário uma redução ≥ 50% na dor em 24 horas sem o uso de medicação de resgate. Na análise por intenção de tratamento, que incluiu 184 pacientes, 28 de 74 pacientes (37,8%) responderam à dose baixa, 17 de 52 pacientes (32,7%) responderam à dose alta e 9 de 58 pacientes (15,5%) responderam ao placebo (P = 0,005 e P = 0,034, respectivamente, versus placebo). Medicação de resgate precisou ser utilizada por 31,1%, 34,6% e 50% dos pacientes nos grupos recebendo Colchicina em dose baixa, Colchicina em dose alta e placebo, respectivamente. O grupo de pacientes que recebeu a dose baixa de Colchicina apresentou um perfil de eventos adversos semelhante ao grupo placebo, enquanto a dose alta de Colchicina associou-se a uma frequência significantivamente maior de diarreia e vômitos.1
Três estudos duplo-cegos, randomizados, placebo controlados e cruzados estabeleceram a eficácia da Colchicina em pacientes com Febre Familial do Mediterrâneo; em 43 pacientes, o número de ataques de febre e serosite diminuíram de 178 com placebo para 29 com Colchicina. Além disso, houve uma relevante redução na gravidade dos ataques.2
Kadioglu e cols. estudaram 60 pacientes com Doença de Peyronie durante a fase aguda (duração média: 5,7 ± 4,3 meses) que foram tratados com Colchicina. Após um seguimento médio de 10,7 ± 4,7 meses, a deformidade peniana melhorou em 30%, permaneceu inalterada em 48,3 % e piorou em 21,7% dos pacientes. A dor resolveu-se em 95% dos pacientes. Os melhores resultados foram obtidos nos pacientes sem fator de risco para doença vascular, tratados dentro dos primeiros 6 meses da doença, com grau de curvatura peniana < 30 graus, sem disfunção erétil na anamnese e com resposta positiva à combinação de injeção e teste de estimulação.3
Estudo realizado por Ahern e col. com 43 pacientes com crise de gota aguda. Todos os pacientes tiveram o diagnóstico confirmado por aspiração do líquido sinovial e sua avaliação por microscopia eletrônica de luz polarizada. Os pacientes foram randomizados em 2 grupos: Colchicina (n=22) ou placebo (n=21). A dose inicial de Colchicina foi 1mg, seguida por 0,5mg a cada 2 horas até a resposta completa sem toxicidade. Anti-inflamatórios não hormonais ou analgésico não foram permitidos nas 48 horas antes do estudo e durante o mesmo. Os pacientes foram avaliados a cada 6 horas por 48 horas. A dor foi avaliada usando-se a Escala Visual Analógica. Dos pacientes tratados com a Colchicina, 2/3 deles, apresentaram melhora após 48 horas, mas apenas 1/3 do grupo placebo apresentaram resposta similar. O grupo Colchicina respondeu mais precocemente e diferenças significantes no grupo placebo ocorreram após 18-30 horas. Todos os pacientes do grupo Colchicina apresentam diarreia, que ocorreu antes da melhora da dor na maioria dos pacientes, após uma média de tempo de 24 horas (com dose média de 6,7mg). Este estudo definiu a história natural da gota aguda e demonstrou que, embora tenha ocorrido diarreia na maioria dos pacientes, a Colchicina apressou a recuperação dos pacientes.4
Referências:
1. Terkeltaub et al. High versus low dosing of oral colchicine for early acute gout flare: Twenty-four-hour outcome of the first multicenter, randomized, double-blind, placebo-controlled, parallel-group, dose-comparison colchicine study. Arthritis Rheum. 2010 Apr; 62(4):1060-8.
2. Zemer D et al. A controlled trial of colchicine in preventing attacks of familial mediterranean fever. N Engl J Med 1974; 291:932; Dinarello CA et al. Colchicine therapy for familial mediterranean fever. A double-blind trial. N Engl J Med 1974; 291:934; Goldstein RC, Schwabe AD. Prophylactic colchicine therapy in familial Mediterranean fever. A controlled, double-blind study. Ann Intern Med 1974; 81:792.
3. Kadioglu A et al. Treatment of Peyronie's disease with oral colchicine: long-term results and predictive parameters of successful outcome. Int J Impot Res. 2000 Jun;12(3):169-75.
4. Does colchicine work? The results of the first controlled study in acute gout.Ahern MJ, Reid C, Gordon TP, McCredie M, Brooks PM, Jones M.Aust N Z J Med. 1987 Jun;17(3):301-4.
Características Farmacológicas
A Colchicina é um alcaloide derivado do Colchicum autumnale que interfere nas funções do citoesqueleto celular pela inibição da polimerização da β-tubulina em microtúbulos, inibindo a ativação, a degranulação e a migração dos neutrófilos associados com a mediação dos sintomas da gota. Na Febre Familial do Mediterrâneo, a Colchicina pode interferir com a montagem do inflamassomo presente nos neutrófilos e monócitos que medeia a ativação da interleucina (IL)-1β.
O uso da Colchicina na Doença de Peyronie deve-se a sua capacidade de diminuir a síntese de colágeno e ativar a colagenase, além de suprimir a liberação de fatores de crescimento e de citocinas inflamatórias.
Farmacocinética
A ligação da Colchicina às proteínas plasmáticas é baixa (~39%). A Cmáx é de 2,2 nanogramas por mL após administração oral de 2mg e a Tmáx é atingida de 0,5 a 2 horas. O metabolismo da Colchicina é hepático pela via CYP3A4, ela sofre recirculação enterohepática e tem excreção biliar e urinária (40 a 65% como droga não modificada). A excreção renal pode estar aumentada em pacientes com hepatopatias. A meia-vida de eliminação varia de 27 a 31 horas. Devido ao alto grau de captação pelos tecidos, a eliminação da Colchicina pode continuar por 10 dias ou mais após interrupção da administração do produto.
Tempo médio estimado para início da ação terapêutica
O início da ação após a primeira dose oral é de 12 horas.
O alívio da dor e da inflamação na artrite gotosa aguda ocorre em 24 a 48 horas após a primeira dose oral.
O alívio do edema pode ocorrer em 72 horas ou mais.
Interação Alimentícia: posso usar o Colchicina com alimentos?
A ingestão de bebidas alcoólicas ou pacientes alcoólatras podem ter risco aumentado de toxicidade gastrintestinal pela Colchicina. O álcool aumenta as concentrações plasmáticas de ácido úrico, podendo diminuir a eficácia do tratamento profilático da droga.
Fontes consultadas
Fonte: Bula do Medicamento do Profissional Colchis®.
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O conteúdo desta bula foi extraído manualmente da bula original, sob supervisão técnica do(a) farmacêutica responsável: Karime Halmenschlager Sleiman (CRF-PR 39421). Última atualização: 13 de Fevereiro de 2020.